Envelhecimento e saúde mental: um olhar mais a fundo

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O envelhecimento é um processo natural da vida, acompanhado de diversas transformações físicas e emocionais. Embora fundamental para uma velhice feliz e saudável, a saúde mental é muitas vezes negligenciada neste processo.

Ao longo dos anos, com a aposentadoria, perda de entes queridos, deterioração da saúde física e limitações naturais da idade, são desencadeados sentimentos de tristeza, solidão e angústia.

“Percebemos o envelhecimento, em geral, quando percebemos o envelhecimento dos nossos pais, seja pelo andar mais lento, por vezes curvado, pequenos lapsos de memória ou dificuldade em executar ações que até pouco tempo atrás faziam parte de suas rotinas”, explica a psicanalista Maristela Carvalho.

 

Há outras situações que evidenciam o passar dos anos, como um maior cansaço ao longo do dia, sem a mesma disposição de antes, ou observar que os filhos, antes crianças pequenas e dependentes, num piscar de olhos criam asas e tornam-se adolescentes, jovens adultos, com autonomia e independência.

 

Saúde física e mental: atenção

Enquanto a saúde física já está claro para a grande maioria que pode e deve ser cuidada ao longo da vida, através da prática de exercícios e cuidados com a alimentação, pouco se fala sobre os diversos cuidados que também devemos ter, ao longo da vida, para preservar e prevenir problemas com a saúde mental.

A falta de informação contribui para esse cenário, que até pouco tempo atrás era dominado por pensamentos de que problemas mentais são comuns na velhice e fazem parte do processo de envelhecimento. Mas isso está mudando. Não podemos aceitar essas questões como ‘normais’, muito menos negligenciar quando são identificadas em pessoas próximas.

Saúde mental na terceira idade

A velhice precisa ser preparada, porque a mudança física é brusca, alerta Maristela.

 

“Não ter mais as atividades que tinha com 40, 50, 60 anos, requer encontrar novos interesses e novas atividades, que se adequem ao momento físico e emocional do presente. Para essa descoberta, o processo de autoconhecimento é fundamental e permitirá redescobrir interesses”.

 

Essa mudança não é fácil, especialmente quando estamos sozinhos. Mudanças geram demandas e amadurecimento. É preciso estar preparada para assistir à chegada dessas novas etapas com outro olhar”, orienta a psicanalista.

O primeiro grande passo para manter a saúde mental em dia é ter uma vida social ativa. Participar de atividades sociais, cultivar amizades e manter contato com a família são fundamentais para combater a solidão e a depressão.

A atividade física também deve ser praticada regularmente, com orientação profissional. Além de reduzir o estresse, manter-se em movimento proporciona melhora do humor e da autoestima.

Além do corpo, a mente também deve estar em movimento. Ler, fazer palavras cruzadas, aprender novas habilidades, participar de atividades individuais ou em grupo estimulam o cérebro e ajudam a prevenir o declínio cognitivo.

“O idoso está sempre relembrando o passado, o tempo em que era ativo, protagonista na vida das pessoas com quem convivia, observa a psicanalista.

 

“Perder essa posição e observar cada vez mais a sua dependência deve acontecer gradativamente, permitindo que essa mudança de ciclo seja acompanhada por novos interesses e redescobertas de vida.

Por fim, em caso de dúvidas ou caso haja mudanças repentinas de hábitos, não hesite em procurar um profissional.

“Olhar para a nossa história de forma diferenciada, entender as nossas dores, o nosso percurso, as dificuldades, é importante para que possamos agir de acordo com esta nova realidade. Contar com a ajuda profissional, como um psicoterapeuta, auxiliará neste processo, abrindo janelas e portas”, sugere Maristela.

Cuide de seus idosos, construa uma rede de apoio e permita que ele se sinta amado e acolhido. Desta forma, é possível garantir uma velhice mais feliz e saudável.

* Maristela Carvalho é formada em pedagogia pela PUC/SP; em psicanálise pelo Centro de Estudo Psicanalítico; e em psicologia pela Université Lumière Lyon II, na França. É membro do Grupo APOIAR e do Centro de Refugiados da USP, nos quais presta serviços de apoio à saúde mental para refugiados e pessoas em situação de vulnerabilidade social, e do Órion Instituto Médico.

Monica Kulcsar
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