A volta para casa no pós-enchente é muito desafiadora, inclusive para os pais ou responsáveis por crianças com autismo. Valéria Viera de Figueiredo, professora do curso de psicologia da Estácio, explica que os pequenos com autismo podem ter dificuldades para expressar suas necessidades, medos e desconfortos. A irritabilidade, hipersensibilidade sensorial e desorganização emocional, são alguns dos sintomas que podem apresentar. Geralmente autistas evitam o contato social e possivelmente esse limite em aproximar-se e permitir a proximidade irá dificultar a obtenção de auxílio apropriado. “A preparação adequada e a conscientização sobre as necessidades das crianças com autismo podem ajudar a diminuir os impactos negativos em situações de calamidade pública”, frisa.
Crianças com autismo têm necessidade de rotinas e estruturas previsíveis, e quando há a interrupção, como quando ocorreu a calamidade, os níveis de estresse e ansiedade podem aumentar significativamente. Ruídos altos, luzes brilhantes e multidões podem ser extremamente desconfortáveis e desorientadores para crianças com hipersensibilidade sensorial. “Adaptar-se a novos ambientes, como abrigos de emergência, pode ser muito desafiador, especialmente sem itens familiares que ajudam a manter a calma”, explica a professora. Para ajudar a acalmar e confortar as crianças, Valéria sugere que espaços sensoriais amigáveis sejam criados nos abrigos e que a continuidade dos cuidados médicos e terapias essenciais sejam mantidas.
A volta para casa
Ao ir para casa, é ideal ter itens de conforto, como objetos familiares, itens sensoriais, como brinquedos ou cobertores. Se faz necessário explicar para a criança o que ocorreu, de forma a prepará-la para o que vai encontrar. “Explique o que aconteceu e o que ela pode esperar ao voltar para casa. Use histórias sociais, desenhos ou fotos para ajudar na compreensão dos acontecimentos”, aconselha. Valéria ainda destaca a necessidade de dar instruções claras e simples do que vai acontecer e do que é esperado da criança, usando comunicação visual se necessário.
A reintrodução da criança ao ambiente da casa deve ser gradual, começando por espaços mais familiares e seguros antes de explorar áreas que foram mais afetadas pela enchente. “Dependendo da idade e habilidades, envolva-a em atividades simples de limpeza e organização, dando-lhe um sentido de controle e normalidade.”, recomenda a professora. Assim que possível, importante reestabelecer as rotinas diárias da criança, como horários regulares para refeições, banhos e sono.
Apoio familiar e da comunidade
É essencial que a comunidade e as famílias trabalhem juntas para proporcionar um ambiente acolhedor e seguro, permitindo que as crianças possam superar os desafios. Buscar o apoio de familiares, amigos e a comunidade para ajudar no processo de retorno e compartilhar a carga emocional, buscando uma rede de suporte, pode aliviar o estresse dos pais ou responsáveis e proporcionar um ambiente mais estável. “A paciência, a compreensão e o suporte contínuo são fundamentais para ajudar uma criança com autismo a se ajustar e se sentir segura novamente após uma enchente”, conclui.