Por: Fernando Augusto de Souza, zootecnista e gerente de produtos da ICC
O estresse térmico é um dos principais desafios enfrentados na produção de ovos, afetando significativamente o desempenho e a saúde das aves poedeiras. Quando expostas a temperaturas elevadas, as aves sofrem uma série de alterações fisiológicas que comprometem seu bem-estar e produtividade.
Uma das consequências diretas do estresse térmico é a redução no consumo de ração, o que leva a uma menor ingestão de nutrientes essenciais para a manutenção da saúde e produção de ovos. Como resultado, observa-se uma queda tanto na quantidade quanto na qualidade dos ovos produzidos, com ovos menores e de casca mais fina.
Além disso, o estresse térmico provoca alterações no equilíbrio eletrolítico e ácido-base das aves, podendo levar a um aumento da mortalidade no plantel. A imunossupressão causada pelo estresse também torna as aves mais suscetíveis a doenças, comprometendo ainda mais a produtividade.
Fisiologicamente, as aves não possuem glândulas sudoríparas, o que dificulta a dissipação de calor. Para tentar compensar, elas aumentam a frequência respiratória (ofegação) e promovem a vasodilatação periférica, redirecionando o fluxo sanguíneo dos órgãos internos para a superfície corporal. Essas alterações são acompanhadas por mudanças hormonais, como o aumento da corticosterona, conhecida como o hormônio do estresse. O desequilíbrio eletrolítico, especialmente a queda nos níveis de cálcio, é outro fator preocupante, pois afeta diretamente a qualidade da casca dos ovos produzidos.
Para prevenir os efeitos negativos do estresse térmico, é fundamental adotar medidas de manejo adequadas. Fornecer água fresca e de qualidade em quantidade suficiente, garantir uma ventilação adequada do galpão para remover o ar quente e utilizar sistemas de resfriamento, como nebulizadores e pad cooling, são estratégias essenciais.
A utilização de aditivos na dieta, como eletrólitos para equilíbrio ácido-base, antioxidantes, vitaminas C e E e minerais quelatados, também auxilia no combate ao estresse térmico. A suplementação via dieta com parede celular de levedura de etanol, que possui ação imunomodulatória, é uma estratégia altamente eficaz, principalmente na redução de processos pró-inflamatórios e radicais livres causados pelo aumento das temperaturas.
O uso de parede celular de leveduras de etanol pode auxiliar no combate ao estresse térmico em aves poedeiras de diversas maneiras. A levedura de etanol é um imunonutriente proveniente da parede celular de leveduras Saccharomyces cerevisiae usadas na fermentação da cana de açúcar para produção de etanol, rico em mananoligossacarídeos (MOS) e beta-glucanos.
São diversos os efeitos benéficos das beta-glucanas e MOS na mitigação dos efeitos do estresse térmico:
- Modulação da resposta imune: os MOS e beta-glucanas presentes na levedura de etanol têm a capacidade de modular a resposta imune das aves. Eles estimulam a atividade de macrófagos e outras células de defesa, fortalecendo o sistema imunológico. Isso é especialmente importante durante o estresse térmico, quando as aves estão mais suscetíveis a doenças devido à imunossupressão.
- Manutenção da integridade intestinal: o estresse térmico pode comprometer a integridade da parede intestinal das aves, levando a um aumento da permeabilidade e translocação de bactérias patogênicas. Os MOS presentes nas leveduras de etanol têm a capacidade de se ligar a essas bactérias patogênicas, impedindo sua adesão à parede intestinal e reduzindo a colonização. Isso ajuda a manter a integridade intestinal e a saúde das aves.
- Equilíbrio da microbiota intestinal: a presença de MOS e beta-glucanas auxiliam no crescimento de bactérias benéficas no trato gastrointestinal. Essas bactérias benéficas, como Lactobacillus e Bifidobacterium, competem com bactérias patogênicas por espaço e nutrientes, ajudando a manter um equilíbrio saudável da microbiota intestinal. Um intestino saudável é essencial para a absorção adequada de nutrientes e para a manutenção da imunidade, especialmente durante períodos de estresse térmico.
- Redução da inflamação: O estresse térmico pode desencadear uma resposta inflamatória no organismo das aves. As beta-glucanas presentes nas leveduras de etanol têm propriedades anti-inflamatórias, ajudando a modular a resposta inflamatória e reduzir os danos causados pela inflamação excessiva.
- Melhoria da digestibilidade e absorção de nutrientes: A levedura de etanol auxilia na digestibilidade e absorção de nutrientes, especialmente minerais como cálcio e fósforo. Isso é particularmente importante durante o estresse térmico, quando a ingestão de alimentos é reduzida e a absorção de nutrientes pode ser comprometida.
Em um estudo realizado na FZEA-USP (Koiyama et al., 2015), com diferentes inclusões da levedura de etanol na ração de poedeiras e em condições de estresse térmico (temperaturas superiores a 40°C), observou-se que as aves suplementadas com leveduras de etanol, além de apresentarem melhores resultados de produção e qualidade de ovos, também retornaram e mantiveram melhores índices de produção após o período de estresse térmico.
Os beta-glucanos presentes nas leveduras de etanol desempenham um papel fundamental na neutralização direta das espécies reativas ao oxigênio (EROs), agindo como sequestradores de radicais livres e protegendo as células dos danos oxidativos. Além disso, esses compostos são capazes de estimular as defesas antioxidantes endógenas das aves, ativando a expressão de genes relacionados a enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx). Essas enzimas são essenciais para manter o equilíbrio oxidativo no organismo das aves, neutralizando as EROs e prevenindo o estresse oxidativo.
Outro aspecto importante na mitigação dos efeitos do calor, é a capacidade da levedura de etanol em modular a resposta inflamatória. O estresse térmico pode desencadear um processo inflamatório nas aves, que está intimamente relacionado ao estresse oxidativo. Os mediadores inflamatórios podem estimular ainda mais a produção de EROs, amplificando o dano oxidativo. Graças às propriedades anti-inflamatórias dos beta-glucanos é possível reduzir a inflamação e, consequentemente, minimizar o estresse oxidativo associado a ela.
Em conclusão, a levedura de etanol é um aditivo natural versátil que pode desempenhar um papel crucial na mitigação dos efeitos do estresse oxidativo causado pelo estresse térmico em aves poedeiras. Seus múltiplos mecanismos de ação, incluindo atividade antioxidante direta, estimulação das defesas antioxidantes endógenas, efeitos anti-inflamatórios, manutenção da integridade intestinal e melhoria da eficiência alimentar, trabalham em sinergia para proteger as aves contra os danos oxidativos e manter seu equilíbrio oxidativo durante períodos de alta temperatura. A inclusão da levedura na dieta das aves poedeiras pode ser uma estratégia eficaz para minimizar os impactos negativos do estresse térmico na saúde e produtividade das aves.