A obesidade infantil é um tema preocupante que tem ganhado cada vez mais destaque na sociedade contemporânea. Segundo dados atualizados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 38 milhões de crianças com menos de cinco anos estão acima do peso ou obesas em todo o mundo, sendo que mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos estão com sobrepeso ou obesidade.
De acordo com a coordenadora do curso de Nutrição da Estácio-RS, Juliana Gonçalves, a obesidade infantil cresceu de uma forma significativa nos últimos anos, tendo se agravado após a pandemia da Covid-19, e é o resultado de uma série de fatores, entre eles ambientais, genéticos e comportamentais. “Então o ambiente que a criança está inserida, o estilo de vida sedentário, distúrbios psicológicos como ansiedade e depressão, consumo alimentar, fatores genéticos e hormonais, estão entre as causas”, explica.
Segundo a professora, estudos comprovam que crianças que chegam aos 10 anos de idade obesas, têm 80% de chances de se tornarem adultos obesos. Além das questões estéticas, a obesidade infantil está associada à uma série de riscos à saúde: “hoje essas crianças correm o risco de desenvolver diferentes tipos de doenças, principalmente doenças articulares, doenças nos ossos, problemas de diabetes e até mesmo doenças cardíacas. Então para evitar esse risco, é essencial que a introdução alimentar seja feita no período correto, a partir dos seis meses de vida, após o período do aleitamento materno exclusivo e com alimentos balanceados, de acordo com a individualidade e faixa etária de cada criança”.
Conforme a nutricionista, para evitar esses problemas, os alimentos ultraprocessados e industrializados como salgadinhos, refrigerantes e biscoitos recheados devem sair de cena e dar mais espaço aos alimentos mais naturais, entre eles, o arroz, feijão, legumes e frutas.
Já o professor de Educação Física da Estácio Curitiba, Rafael Braga, complementa dizendo que a importância da alimentação balanceada e da prática regular de atividades físicas é fundamental para reverter essa tendência e garantir um futuro mais saudável para as crianças. Ele define a obesidade como uma condição crônica multifatorial associada a nossa organização de vida de mundo contemporâneo, que acaba impactando na gestão alimentar. “O tempo de tela, nos smartphones, tablets, smartwatch, videogame, televisão, principalmente entre crianças e adolescentes, leva a uma ausência de movimento. As tecnologias que temos desenvolvido impacta nosso nível de saúde”, afirma.
Para Braga, a participação de pais e professores é necessária e estratégica para combater a obesidade infantil e promover um estilo de vida mais saudável para as futuras gerações. “É nesses dois ambientes que a criança passa a maior parte do tempo seu dia. Na escola, ela fica limitada, quando consideramos um turno, que é a grande parte da população brasileira. Na escola é preciso oferecer programas de educação física de qualidade, estimulando hábitos saudáveis desde a infância”, afirma o professor. E quando está em casa, explica ele, a criança precisa ser estimulada a ter uma rotina mais voltada para o movimento para que ela possa se desenvolver e crescer positivamente e com saúde”, destaca.
Nesse sentido, a coordenadora do curso de Nutrição, Juliana, destaca que, apesar do diagnóstico da obesidade infantil ser feita pelo profissional da saúde, a família também consegue observar esse risco através do hábito e estilo de vida da criança, da alimentação e sedentarismo. “O acesso à informação sobre as escolhas saudáveis para a família é fundamental, porque a criança não tem a autonomia de comprar e preparar o seu alimento. Então os pais devem ficar em alerta e cuidar a alimentação dos filhos como um todo”, ressalta.
Para a nutricionista, entre as principais dicas para evitar a obesidade infantil, estão as mudanças práticas, incluindo na rotina das crianças o consumo de água, frutas e verduras, utilizando a criatividade para tornar a alimentação um momento prazeroso para todos, assim como a prática de atividade física. “Os pais devem ser os exemplos, consumindo estes alimentos e incentivando as crianças a mudarem seus hábitos. Por fim, vale a frase: desembale menos e descasque mais”, afirma.
Crianças obesas enfrentam problemas psicológicos
Para a psicóloga e professora da Estácio Curitiba, Bárbara Caroline Macedo, dentre os ideais da sociedade contemporânea está o reforço à corponormatividade, isto é, a ênfase à aparência física considerada padrão, a qual, atualmente, está vinculada à magreza. Em consequência disso, as crianças obesas enfrentam uma série de problemas psicológicos que afetam significativamente o seu bem-estar e desenvolvimento como a dificuldades de interação social; baixa autoestima, depressão, ansiedade; bullying e discriminação.
“Estar em descompasso com a imagem valorizada socialmente produz baixa autoestima e insegurança. Além disso, crianças obesas são alvo da estigmatização social, recebem apelidos e passam por situações constrangedoras”, explica. É comum, diz ela, que aqueles que se apresentam com um corpo fora dos padrões sejam declarados como preguiçosos, relaxados e incontrolados, o que pode levar os sujeitos à depressão e ansiedade infantil. “Como consequência disso, a criança acaba se isolando, não consegue fazer novos amigos, passa por um estresse psicológico intenso e tem uma imagem corporal depreciativa”, alerta.