FECHAMENTO BOLSA (22/04)

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Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital

O fechamento do mercado financeiro nesta segunda-feira reflete uma dinâmica complexa, influenciada por uma série de fatores globais e locais. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, apresenta uma modesta valorização, alinhando-se com o otimismo cauteloso que permeia os mercados internacionais. Este cenário é parcialmente atribuído à estabilização das tensões no Oriente Médio, que, por sua vez, impactam os preços do petróleo. A Petrobras destaca-se com um aumento significativo em suas ações, antecipando a divulgação de seus dividendos, o que gera expectativas positivas entre os investidores.

 

A performance do setor aéreo é notável, com empresas como CVC e Embraer registrando ganhos expressivos, enquanto a Gol mantém uma variação mais contida. Por outro lado, o setor de aluguel de veículos enfrenta desafios, com empresas como Movida e Localiza experimentando quedas. Este movimento pode ser interpretado como uma reação à baixa demanda e à proximidade da temporada de balanços de 2024, onde investidores e analistas aguardam com expectativa as divulgações financeiras. A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, também está sob os holofotes, com sua divulgação de resultados prevista para breve.

 

Os bancos, tradicionalmente vistos como termômetros da economia, mostram um comportamento misto, com o Banco do Brasil registrando uma queda mais acentuada. Este padrão reflete a incerteza dos investidores diante da possibilidade de um aumento na taxa Selic, que poderia afetar a rentabilidade dos bancos. Em meio a essas variações, o mercado financeiro segue atento aos indicadores econômicos e políticos, que continuarão a moldar as expectativas e estratégias dos investidores nos próximos dias.

 

A trajetória da taxa Selic no Brasil em 2024 tem sido marcada por ajustes em resposta às pressões inflacionárias. Inicialmente, as expectativas giravam em torno de 8,5% a 9%, mas os recentes avanços da inflação impulsionaram as projeções para cerca de 9,5% a 9,75%. Este cenário reflete a complexidade do ambiente econômico, onde o Banco Central precisa equilibrar o controle inflacionário com o estímulo à atividade econômica.

 

No setor corporativo, a Petz se destaca com o anúncio de sua fusão com a Cobasi, gerando um movimento positivo nas ações da empresa. A transação avaliou as ações da Petz em R$ 7,10, impulsionando uma valorização significativa no mercado, com expectativas de preço-alvo ainda maiores. Este evento ressalta a dinâmica do mercado de ações, onde fusões e aquisições podem criar oportunidades de investimento e reconfigurar setores inteiros. Investidores demonstram interesse robusto, refletido no volume de negociações e na valorização das ações no curto prazo, sinalizando confiança na sinergia e no potencial de crescimento resultantes da fusão.


 

Carlos Duarte, planejador financeiro CFP pela Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro):

O fechamento dos mercados financeiros hoje refletiu uma agenda econômica limitada, com poucos indicadores econômicos divulgados, o que direcionou as atenções para as dinâmicas geopolíticas e suas implicações nos mercados. A aparente tranquilidade no cenário geopolítico contribuiu para uma atmosfera de menos tensão nos mercados, permitindo um foco maior nas questões econômicas puras. Observou-se uma diminuição nas taxas de juros futuros de curto e médio prazo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, embora a cautela permaneça em relação ao ritmo e à magnitude da queda das taxas de juros americanas. A incerteza quanto ao momento exato em que ocorrerá o corte das taxas mantém o mercado em alerta.

 

No Brasil, além do acompanhamento da política de juros americana e dos sinais emitidos pelo Banco Central, os investidores estão particularmente atentos ao cenário fiscal doméstico. O conflito entre o Poder Executivo e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, tem potencial para aumentar os gastos da União e impactar significativamente o orçamento federal. Esse impasse político pode limitar a capacidade do Banco Central de reduzir as taxas de juros, uma vez que um aumento nos gastos públicos poderia pressionar a inflação e, consequentemente, a política monetária.

 

A situação é complexa, pois o mercado de juros está sendo pressionado por dois lados: a necessidade de avaliar as tendências do mercado americano e a necessidade de monitorar os desdobramentos internos do conflito entre os poderes Executivo e Legislativo no Brasil. Este último tem o potencial de levar a chamadas “pautas-bomba” que podem impor desafios adicionais ao governo no gerenciamento fiscal e na implementação de políticas econômicas. A resolução dessas questões é crucial para a estabilidade econômica e a confiança dos investidores, tanto no contexto doméstico quanto no internacional.

 

No cenário atual do mercado externo, observa-se que a diminuição das tensões geopolíticas no Oriente Médio contribuiu para uma redução na pressão sobre os preços do petróleo, o que, por sua vez, aumentou o apetite ao risco dos investidores. Isso se refletiu positivamente nas bolsas da Europa e dos Estados Unidos, que apresentaram alta. No entanto, as commodities enfrentaram um desafio devido à indicação do Banco Central da China de que não haverá grandes incentivos adicionais para a economia, afetando assim os preços desses bens e impactando negativamente as ações relacionadas a esse setor.

 

No mercado de câmbio, a volatilidade permaneceu moderada, com uma pequena alta seguida de estabilidade. A possibilidade de intervenção pelo presidente do Banco Central oferece uma certa segurança ao mercado, sugerindo que o Bacen está pronto para agir se necessário, o que pode ajudar a manter as oscilações sob controle. Esses fatores combinados delineiam um panorama cauteloso de otimismo, com atenção voltada para as próximas movimentações dos bancos centrais e desenvolvimentos geopolíticos que possam influenciar os mercados globais.

 

O mercado de ações brasileiro, representado pelo Ibovespa, experimentou uma leve alta, impulsionada principalmente pelo anúncio da Petrobras sobre a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários retidos. Este movimento positivo da Petrobras ajudou a elevar o índice, apesar da queda nas ações da Vale, que sofreu impactos devido a preocupações relacionadas à China. A performance da Vale foi afetada por fatores como lockdowns na China, que diminuíram a demanda por minério de ferro, e condições climáticas adversas no Brasil que afetaram a produção. 

 

Enquanto isso, o mercado permanece cauteloso, aguardando a divulgação de resultados corporativos e o IPCA-15 de março, que é um indicador importante da inflação brasileira. Esses fatores são cruciais para os investidores, pois influenciam as decisões sobre o nível de risco que estão dispostos a assumir em suas carteiras de investimentos. A expectativa é que esses indicadores forneçam uma direção mais clara para o mercado e possivelmente estimulem uma maior disposição ao risco, dependendo dos resultados divulgados.