Que a saúde mental da população mundial declinou muito após a pandemia, não há dúvidas. Esse fato ficou evidenciado pela procura elevada por atendimento nos consultórios psicológicos e psiquiátricos.
Porém, uma pesquisa realizada pela plataforma Neurotech Sapien Labs mostrou que a qualidade, em termos de saúde mental de toda a população brasileira, atingiu o delicado patamar de 4º lugar no ranking de países com as piores taxas. Foram mapeados 71 países e, infelizmente, esse resultado demonstra uma triste realidade: estamos enfrentando uma crise de saúde mental.
Ao analisar esse cenário, não podemos ficar presos em questões de emoções voltadas apenas para alegria ou tristeza. Vai muito além disso. Estamos falando do estado interior geral do indivíduo e de sua forma de relacionar e conectar a vida pessoal com a vida social. Ou seja, refere-se à maneira o emocional está impactando a vida cotidiana do ser humano.
Somos uma das populações que mais apresenta queixas direcionadas por estresse, transtornos e questões psíquicas. Entre 2018 e 2022 tivemos o dobro de internações psiquiátricas que saltaram de 794 para 2100 registradas. Ou seja, o próprio perfil populacional está mudando em relação ao que diz respeito à saúde e bem estar emocional.
A depressão ganha em disparado nos tipos de diagnósticos e a incidência cresce em mulheres jovens de 18 a 39 anos. Mas, também não podemos fechar os olhos para o aumento de casos de problemas de saúde mental em crianças. Inclusive, também já se registra a elevação do uso medicamentos controlados, especialmente ansiolíticos, por parte dessa população mirim.
Uma triste realidade que possui muitas causas que justificam a posição do ranking: o preconceito que ainda é grande e faz com que as pessoas só busquem ajuda de um profissional de saúde mental, quando vários transtornos ou neuroses já estão associados ou em estágio irreversível; insegurança do período pandêmico que se arrasta até hoje, aumentando os níveis de estresse, depressão e ansiedade por conta do isolamento social e das incertezas com o futuro; desemprego e desigualdade social e econômica; insuficiência no acesso aos serviços de saúde mental na rede pública que não dispõe de espaços acolhedores e qualificados, em quantidade que possa acolher a população que não possui plano de saúde; negligência e falta de divulgação dos benefícios dos cuidados com a saúde mental e da promoção à saúde como um todo.
Enfim, esse quadro precisa ser revertido com urgência e a posição do Brasil no ranking alterada, pois ela reflete uma população adoecida psiquicamente. É fundamental promover uma melhor qualidade de vida para o ser humano, considerando que ele é um ser único, com suas particularidades e incompletudes.
Além disso, falta, por parte de todos, a consciência e a capacidade de ampliar o senso crítico para que o indivíduo adoecido consiga se perceber e fazer suas escolhas, considerando sua bagagem de vida, seus desejos e anseios, através de um melhor manejo de autocontrole, resiliência, autocompaixão e senso de pertencimento, que são ingredientes de suma importância para o fortalecimento dos propósitos de uma saúde mental equilibrada e saudável.
Ou seja, se entendermos e levarmos a sério a psique, certamente, teremos indivíduos mais leves e equilibrados mentalmente.
Dra. Andrea Ladislau é psicanalista.