Por Marcelo Almeida
Atualmente, a energia é responsável por impulsionar todas as atividades da economia brasileira. Nesse sentido, a gestão de eficiência energética tornou-se um grande desafio em diferentes setores, como é o caso do mercado industrial. Para se ter uma ideia, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), as indústrias podem destinar mais de 40% de seus custos operacionais à energia elétrica.
Já os dados do SEBRAE apontam que as pequenas empresas podem gastar até 20% de seus custos totais com este tipo de despesa, tornando evidente que este elevado consumo também afeta outros segmentos, como o varejo, educação e saúde, bem como call centers e data centers, que geralmente contam com consumo de energia expressivo, uma vez que a eletricidade representa uma parcela significativa dos seus gastos operacionais.
A importância da gestão de eficiência energética
Com custos significativos, sujeitos a possíveis variações regulatórias e abertura de mercado para novas formas de contratação, a gestão de energia emergiu nos últimos anos como uma tendência crucial para os setores financeiros das empresas, tendo em vista a essencialidade de reduzir as despesas sem comprometer a produtividade.
Desta forma, a gestão energética depende de uma gestão orçamentária detalhada devido a abrangência de componentes no custo, como demanda, consumo, subvenção tarifária, iluminação pública, impostos e encargos, possibilitando estabelecer uma base detalhada para cada um desses elementos e obtendo um controle efetivo.
Além disso, se uma empresa não realiza este gerenciamento de forma assertiva, fica impossibilitada de determinar se está pagando pela energia mais econômica disponível. Outro ponto importante é que quando a gestão de energia é realizada de forma adequada, é possível analisar todos os detalhes que impactam na fatura, proporcionando insights para o planejamento financeiro e para previsões mais precisas.
O impacto do Mercado Livre de Energia para as empresas
Com papel relevante para a redução de gastos com eletricidade, o Mercado Livre de Energia (ACL – Ambiente de Contratação Livre) é uma realidade já consolidada para as grandes indústrias, que consomem, muitas vezes, a energia equivalente ao abastecimento de uma cidade.
No mercado regulado (ACR) tradicional, a aquisição de energia se dá, em sua essência, através das distribuidoras, enquanto no ACL, a compra é realizada diretamente com as comercializadoras. Neste sentido, a complexidade e a constante adaptação das regulamentações de reajuste anual, específicas para cada concessionária no ACR, dificultam a visibilidade e clareza para as empresas quanto a esses encargos.
Por outro lado, ao optar pelo Mercado Livre de Energia, há uma transparência maior, uma vez que se conhece o índice de reajuste (Ex. IPCA) e, consequentemente, o custo associado. No entanto, a sua ampliação do ACL para outros segmentos além da indústria e os grandes consumidores era limitada, devido à alta demanda necessária para ingressar nesse modelo.
Para se ter uma ideia, atualmente, existem aproximadamente 33 mil unidades consumidoras (UC) no ACL, de acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), mas a regulamentação em vigor permitirá a partir de janeiro/2024 a adesão de quase 170 mil novas unidades consumidoras.
Como a tecnologia pode apoiar na gestão energética das empresas?
A tecnologia se apresenta como um recurso fundamental para que as empresas se adaptem às principais tendências e variações do mercado energético, possuindo o potencial de automatizar a coleta de faturas e a captura de dados, formando, assim, um banco poderoso de informações.
Isso permite a aplicação de inúmeras técnicas de inteligência de custos, apoiadas por uma variedade de algoritmos, a fim de auditar faturas, identificar possíveis erros de cobrança e oferecer insights sobre oportunidades de otimização de custos e de consumo.
Além disso, essas ferramentas tecnológicas podem ser úteis no estudo sobre a migração para o Mercado Livre de Energia, pois nem sempre esta transferência pode ser a opção mais viável para as empresas. Desta forma, a tecnologia permite ter um balanço energético sobre a migração, controle de pagamentos, consumo, garantias e até organizar a compra e venda de excedente de energia.
Além de todos esses pontos, a tecnologia desempenha papel crucial na otimização do trabalho das equipes envolvidas no controle de gastos. Isto porque, a gestão de energia demanda uma visão ampla relacionada às tendências e aos fatores externos que afetam o desempenho das companhias. A partir disto, realizar uma gestão energética de maneira adequada requer uma compreensão profunda do segmento e das previsões climáticas, algo desafiador dentro de uma empresa e possível com o apoio da tecnologia.
Portanto, é inegável que a gestão energética tem o potencial de apoiar o desenvolvimento, ou mesmo de prejudicar o desempenho das empresas caso não seja realizada de forma assertiva. Desta maneira, investir em soluções que agreguem valor e possibilitem uma gestão eficiente, são tendências cruciais a serem investidas pelas empresas no próximo ano, a fim de assegurar sua saúde financeira, fortalecer sua eficiência operacional e permitir uma gestão de energia estratégica e orientada para o futuro.
Marcelo Almeida é Diretor da Área Finance Transformation da CXP Brasil, consultoria em tecnologia da informação.