A empresas Hydro e a Albras, por meio do Fundo de Sustentabilidade Hydro, com a realização do Museu da Pessoa e apoio da IBS (Iniciativa Barcarena Sustentável, trazem o projeto Memórias de Barcarena, que conta a rica história do município pelo olhar de quem a viveu. As pesquisas e entrevistas trazem histórias inspiradoras sobre a tradição, a cultura e a vida do povo de Barcarena. E que serão contadas em um livro e um documentário que serão lançados em 29 de novembro, em Barcarena.
Além disso, o projeto ofereceu à sociedade uma formação em Tecnologia Social da Memória, que teve o último encontro e a certificação de participantes no sábado, dia 21, em Barcarena. Foram cinco encontros com o objetivo de capacitar os residentes de Barcarena para que eles possam compartilhar suas próprias histórias na Metodologia de Registros de Histórias de Vida.
O projeto celebra a diversidade da sociedade barcarenense e resgata lembranças de antigos moradores, desde descendentes dos fundadores, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, agregando perspectivas da comunidade à narrativa do município e mostrando a riqueza da identidade desse povo e suas nuances.
Uma dessas histórias é a de Antonio Palheta dos Santos, eletricista e representante da comunidade católica de Vila do Conde, onde nasceu no ano de 1957. Até hoje é um dos principais organizadores das festividades religiosas da Vila, entre elas os Círios de São Francisco Xavier e São João Batista, os mais importantes da região. “Eu ouvi muita história. Não tinha televisão, não tinha rádio, não tinha celular. Qual era o nosso passatempo? Nossos pais, as pessoas mais idosas se reuniam e vinham as lendas. Minha mãe contava que onde a gente morava tinha uma encruzilhada que ninguém podia passar de meia-noite em diante, porque sempre aparecia uma coisa que assombrava as pessoas. Chamavam de ‘visagem’. Ela via essas coisas no mato”, conta Antonio.
Com o trabalho minucioso do Museu da Pessoa, tornou-se possível a catalogação dessas memórias, que contam uma história instigante, repleta de coragem e vivacidade, uma homenagem ao barcarenense. “Minha avó contava que aqui, nesse terreno (onde hoje fica situado o Cabana Clube em Barcarena), aconteciam muitos enforcamentos. Aqui tinha uma samaumeira e era nela que eles amarravam a corda. Quem sabe a gente não está em cima de alguma cova de algum soldado que lutou na Cabanagem? Os trabalhadores até têm medo de ficar aqui sozinhos, porque veem muita visagem. Eles contam que ouvem cadeiras sendo arrastadas e que veem muita alma, vultos brancos, gente caminhando. Na hora que vão prestar atenção, não é ninguém, a pessoa desaparece”, relata Mário Assunção do Espírito Santo, de 48 anos, filho do quilombo Gibrié de São Lourenço, um dos maiores de Barcarena, em terra registrada desde 1709. Mário é pedagogo e um dos líderes populares da preservação e respeito às comunidades indígenas e afrodescendentes de Barcarena, lutando pela conservação do meio ambiente e pelo reconhecimento da posse de terras tradicionais.
“Por muito tempo Barcarena só tinha uns vilarejos pequenos, umas poucas famílias que moravam no Conde, Itupanema, São Francisco. Eram esses os centros. Lá no Conde, ali no São Lourenço, deveríamos ser umas quinze famílias. Mas com a chegada dos projetos tudo mudou. Vieram pessoas de vários locais. Foi um período bom de emprego, com trabalhos de vigia, pedreiro, carpinteiro. Eu mesmo trabalhei como pedreiro, e consegui dar um estudo aos meus filhos”, conta mestre Valter dos Santos Freitas, mais conhecido como Mestre D’Bubuia, nascido no quilombo Gibrié de São Lourenço, nas margens dos rios de Barcarena. Desde criança é pescador e, nos anos 1990, resolveu traduzir sua vivência amazônica e quilombola nas cordas do banjo: tornou-se mestre do carimbó, e prepara seu primeiro disco.