No mês do combate a dor, Brasil e países da América Latina enfrentam desafios

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Outubro é o mês do combate à dor. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), celebram no dia 17 deste mês o Dia Mundial da Dor, condição que se tornou a causa mais frequente de consulta médica no mundo.[1] Quando dura mais de três meses é considerada crônica, sendo uma patologia que pode ter origem em causas biológicas, psicológicas e sociais.[2] 

A dor crônica afeta entre 27% e 42%[3] das pessoas na América Latina e, apesar da alta incidência, o tratamento e a abordagem do paciente seguem sendo um desafio para o sistema de saúde brasileiro. Segundo estudos recentes, 37% da população sofre com algum tipo de dor crônica, sendo as mais recorrentes dores de cabeça e dor lombar.[4] O anestesiologista especialista em dor crônica e em cuidados paliativos, João Garcia, diretor científico da Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), alerta para a importância de um atendimento eficaz: “É fundamental que os profissionais que atuam na ‘linha de frente’, como os médicos de atenção primária, estejam bem preparados para avaliar, diagnosticar e tratar a dor em um curto período de tempo”. Tal postura permite que os pacientes recebam um tratamento oportuno e correto.  

A dor lombar crônica, maior causa de incapacidade para o trabalho no mundo[5], é uma das principais patologias relacionadas à dor[6] que atinge grande parte da população. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as dores da coluna (cervical, torácica e lombar) são a segunda condição de saúde mais prevalente do Brasil (13,5%), entre as patologias crônicas identificadas por algum médico ou profissional de saúde.[7] Na América Latina, estima-se que 10,5% da população sofre com esse tipo de dor.[8] Além disso, o panorama para o futuro não é bom: estima-se que a sua prevalência e carga aumentarão devido a fatores de risco como obesidade e trabalhos físicos exigentes[9].

Sob esse contexto, a IASP declarou 2023 como o Ano do Tratamento Integral da Dor, com o objetivo de promover uma estratégia multidisciplinar para a sua abordagem. Isto envolve a integração coordenada de diversas abordagens[10] para avaliação precoce e manejo personalizado que tem se mostrado mais eficaz em termos de melhoria da qualidade de vida dos pacientes e uso de recursos[11].

Ao analisar o contexto no Brasil, o Dr. João percebe que o país ainda está muito longe de oferecer o melhor tratamento para a dor dos pacientes brasileiros. Para ele, a raiz do problema está, em parte, no universo acadêmico: “Em meio a tantos temas de estudo que são relativamente novos na medicina, o estudo da dor por parte dos alunos e residentes de medicina fica em segundo plano. Também não há o oferecimento de disciplinas dedicadas exclusivamente ao estudo da dor na grande maioria das instituições de ensino, restringindo-se a matérias optativas ou especializações.” 

O especialista também aponta que “a defasagem do rol de medicamentos para a dor no SUS é um problema muito sério que o nosso país já está enfrentando há algum tempo. Além disso, precisamos que haja uma melhora na oferta de recursos que facilitem o treinamento e pesquisa em benefício do tratamento do paciente, por meio do apoio dos governos e seus respectivos sistemas de saúde. Aguardamos muito uma mudança neste cenário para que possamos celebrar com mais intensidade essa data tão importante, de conscientização e combate à dor”.

 

Referências:

[1] Al-Mahrezi, A. (2017). Towards Effective Pain Management: Breaking the Barriers. Disponivel em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5632690/

[2] Definição de dor crônica incluída na  CIE-11. Disponível em: https://icd.who.int/browse11/l-m/es#/http://id.who.int/icd/entity/1581976053 

[3]  Estimativa feita pela Federação Latino-Americana de Associações de Estudos da Dor (FEDELAT) com base na incidência global refletida em: Dor como prioridade global de saúde pública (2011).Disponível em: https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-2458-11-770

[4]  Dados sobre a incidência de dor crônica na população brasileira fornecidos pela Sociedade Brasileira para Estudo da Dor. .Disponível em:  https://sbed.org.br/brazilian-journal-of-pain

[5] Santos et al. (2020). Dor lombar: revisão e evidência de tratamento. Disponível em:  https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0716864020300717

[6] Conclusão baseada em estudos sobre a carga de doenças causadas pela dor crônica na Colômbia, Chile, Peru e Equador

[7] Prevalência da dor lombar no Brasil: uma revisão sistemática. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2015.v31n6/1141-1156/#:~:text=A%20dor%20lombar%20%C3%A9%20uma,algum%20momento%20da%20vida%201 

[8] Garcia JB, Hernandez-Castro JJ, Nunez RG, Pazos MA, Aguirre JO, Jreige A, Delgado W, Serpentegui M, Berenguel M, Cantemir C. Prevalence of low back pain in Latin America: a systematic literature review. Pain Physician. 2014 Sep-Oct;17(5):379-91. PMID: 25247896.

[9]  Vicente-Herrero et al. (2019). Dor lombar em trabalhadores. Disponível em:  https://www.elsevier.es/en-revista-revista-colombiana-reumatologia-374-epub-S0121812319300751

[10]  IASP. (2023) What do we mean by Integrative Pain Care?. Disponible en https://www.iasp-pain.org/resources/fact-sheets/what-do-we-mean-by-integrative-pain-care/

[11]  Abdul Hadi et al. (2017). A qualitative exploration of the perceived barriers to effective pain management of patients with chronic pain. Disponible en https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28606909/