Visão humanizada e tratamento precoce visam dar suporte no controle da dor e nos aspectos emocionais e sociais do paciente
Os cuidados prestados às pessoas com doença em fase terminal, a fim de aliviar seu sofrimento, bem como de seus familiares, denominados cuidados paliativos, são algo bastante recente para a medicina. Somente na segunda metade do século XX, na Inglaterra, pelos trabalhos da enfermeira pioneira Cicely Saunders que a preocupação com os cuidados de pacientes terminais começou a tomar a forma a qual possui hoje.
O trabalho de cuidar e dar qualidade de vida tem como ideia principal oferecer um tratamento humano, dando conforto físico e psicológico para os pacientes, ao invés de centrar-se no prolongamento da vida. Neste sentido, procura demonstrar que a morte é um processo natural da vida. Esta abordagem demanda equipes multidisciplinares, a fim de dar conta de todas as demandas que um paciente exige, bem como o luto da família.
Os paliativistas acreditam na manutenção da qualidade de vida até o último instante. Eles entram em cena a partir do momento no qual os cuidados médicos já não possuem mais eficácia e nada podem fazer para a cura do paciente. Por esse motivo, devem iniciar o mais breve possível. Dentre as doenças terminais, entram os quadros de câncer, tumores e demais doenças que, passadas de um certo estágio, não apresentarão mais remissão.
Cuidados paliativos também visam aspectos sociais e espirituais, de forma a não ignorar nenhum aspecto da individualidade e do desejo da pessoa. Desta forma, auxiliam no conforto e até mesmo no manejo dos sintomas. Segundo a diretora de Serviços de Cuidados Paliativos do Iamspe, Maria Goretti Maciel, trata-se de uma “medicina de princípios, e não uma medicina de protocolos”.
O Brasil organizou diretrizes para políticas públicas em 2018, para implantação no SUS. Mas em 2005 já havia feito um trabalho parecido voltado para a atenção oncológica. Hoje, metade dos serviços de cuidados paliativos está na rede pública de saúde. No entanto, um dado preocupante é que, na média global, somente 14% das pessoas que precisam de cuidados paliativos realmente o recebem. E profissionais da área estão em falta.
Em São Paulo, o INCA e o Núcleo de Serviços Paliativos do Hospital das Clínicas são referências no assunto, onde até mesmo assistência domiciliar é prestada. Foi por conta desta institucionalização que o Conselho Federal de Medicina introduziu em seu Código de Ética Médica os cuidados paliativos como sendo um de seus princípios.
O dever de passar conforto e aliviar a dor de quem está em processo de morte passa por muitas mãos. O médico introduz a medicação, enquanto fonoaudiólogos, por exemplo, ajudam na alimentação segura do paciente que não pode deglutir, enquanto enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, entre outros, atendem às demais necessidades do paciente.
Pacientes oncológicos terminais se beneficiam ainda do auxílio de profissionais formados na faculdade de biomedicina. São estes, devido ao seu conhecimento aplicado em análises clínicas, os responsáveis pelo manejo dos parâmetros fisiológicos dos pacientes, pois sua interpretação das condições clínicas auxiliará os demais profissionais da equipe no direcionamento do tratamento.