Gagueira: a disfunção da fala que diz muito sobre as emoções

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O distúrbio é multifatorial, com fatores agravantes que não são iguais para todos

Quem assistiu ao filme “O discurso do Rei” conheceu um pouco sobre a história do Rei George VI, que sofria de gagueira e tinha um grande desafio pela frente: fazer um discurso no rádio no início da Segunda Guerra Mundial. Com a ajuda do fonoaudiólogo Lionel Logue, o rei consegue controlar sua mente e respiração para superar a gagueira. O filme é uma referência no assunto, pois traz o distúrbio com um ponto de vista diferente, inclusive falando sobre causas psicológicas. Mas ainda deixa uma dúvida no ar: a gagueira tem cura?

O que é gagueira

Para começo de conversa, é importante entender que a gagueira é uma disfunção da fala, que se caracteriza pela repetição de sons e sílabas, ou pausas involuntárias na fala. Sabe quando há um fio solto na elétrica de um carro que atrapalha o seu funcionamento? A gagueira é algo nesse sentido. O distúrbio neurobiológico tem origem no mau funcionamento dos núcleos de base, que são grupos de células nervosas responsáveis pelo controle da motricidade. Ou seja, fazem a comunicação entre diferentes áreas  do cérebro, para que haja a execução de atos motores complexos. 

O indivíduo elabora perfeitamente a fala na mente, mas tem dificuldade em ajustar o tempo e a duração dos sons. É uma falha da conexão motora com o cérebro, como uma internet que cai o sinal e picota a mensagem. Por isso, é comum que repita ou prolongue a emissão de um som. 

Fala espontânea

A gagueira se manifesta  no momento de fala espontânea, o que não acontece enquanto a pessoa declama uma poesia, ou canta uma música. Isso porque, nestes casos, é estimulado um lado diferente do cérebro: o hemisfério direito. Enquanto a fala espontânea, que pode gerar gagueira, estimula o hemisfério esquerdo.

Agravantes

O filme aborda bastante a questão da origem da gagueira, que, no caso do personagem, era uma questão muito mais psicológica do que motora. Porém este é um distúrbio multifatorial, com fatores agravantes que não são iguais para todos. As causas podem variar entre predisposição genética, fatores ambientais e emocionais, como medo, timidez e ansiedade. 

Nestes últimos casos, a gagueira se manifesta quando há uma insegurança diante de uma situação, que faz o organismo reduzir drasticamente a atividade, causando diminuição dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e, consequentemente, dos movimentos que produzem a fala.

Tratamento

A gagueira geralmente se manifesta na infância e pode continuar na vida adulta. Para que não se torne crônica, é importante o diagnóstico e início de tratamento por um profissional formado na faculdade de fonoaudiologia o quanto antes. A princípio, o fonoaudiólogo irá tentar entender as causas do distúrbio, para ajudar na melhoria da fluência verbal e capacidade de comunicação. Para cada caso, há um tratamento diferente, que pode ser a adoção de estratégias durante a fala, como pronunciar as palavras mais devagar, controlar a tensão muscular durante o discurso, com atividades específicas.

O autoconhecimento e autocontrole são fundamentais no tratamento, pois ajudam a pessoa a reconhecer e administrar melhor sensações como estresse, ansiedade, medo e baixa autoestima.