A importância de iniciativas para fomentar o ingresso de pilotos no mercado de trabalho
*Por Rafael Gianesi
A profissão de piloto de avião está entre as mais desejadas e almejadas do mercado. E a retomada do setor, impulsionada pelo controle da pandemia, está fazendo com que a procura por estes profissionais seja cada vez maior e significativa. Números da Organização da Aviação Civil Internacional, agência especializada da ONU, apontam que serão necessários mais 600 mil novos profissionais para pilotar aviões comerciais nos próximos 15 a 20 anos.
Especificamente a região da Ásia-Pacífico, por exemplo, necessitará de cerca de 250 mil pilotos extras até 2037, de acordo com relatório publicado pela Boeing. No Brasil, segundo o Governo Federal, a demanda por transporte aéreo pode triplicar até 2037, chegando a 700 milhões de passageiros ao ano – hoje são 117 milhões. Também é certo que as companhias aéreas vão continuar a comprar e modernizar suas respectivas frotas. Ao fazer isso, vão exigir pilotos.
Também vale destacar o crescimento do segmento de aviação particular, bastante significativo nos últimos tempos, inclusive no período de pico da pandemia, como um agente no processo de aquecimento da demanda por pilotos. Outro fator relevante está no potencial dos trechos diretos no interior do país, que não são atendidos pelos meios de transporte de opções aéreas existentes.
Atualmente, a falta de pilotos já é sentida em alguns locais do globo. Em dezembro do ano passado, uma das maiores companhias aéreas do mundo, a United Airlines, afirmou ao governo americano que estava com 100 aviões parados pela falta de pilotos. No último mês de abril, executivos da Southwest identificaram a contratação de pessoal como uma de suas principais prioridades este ano, estabelecendo a meta de contratar 8.000 novos funcionários. Quarenta por cento deles serão tripulações de voo.
Um dos fatores que explicam esse fato são as políticas governamentais adotadas durante a pandemia, como vacinação obrigatória para pilotos em treinamento e restrições de viagens, que auxiliaram a manter distante uma nova safra de aviadores em potencial. Além disso, desde 2020, milhares de pilotos se aposentaram – por escolha ou envelhecendo aos 65 anos.
O cenário demonstra que é necessário pensar em iniciativas para mitigar o principal obstáculo do árduo processo de formação de novos profissionais: a questão do custo. Os aspirantes, infelizmente, precisam, em muitos casos, financiar do próprio bolso todo treinamento e aperfeiçoamento, uma conta que pode chegar a US$ 200 mil até que os candidatos acumulem as horas de voo necessárias para estarem autorizados a atuar como piloto comercial.
Por conta do obstáculo financeiro e do altíssimo grau de exigência, jovens podem acabar optando por uma carreira que forneça um retorno mais rápido do dinheiro investido na graduação.
Portanto, uma iniciativa que deve ser tomada pelas empresas do setor consiste em fomentar a integração de profissionais ao mercado de trabalho com programas de inclusão, que ofereçam a pilotos privados formados a possibilidade de voar como copilotos, com comandantes habilitados para instrução, a fim de acumular horas de voo sem custo.
É um tipo de ação que está completamente alinhado com os princípios da política ESG, tão em voga atualmente. Além disso, promover o ingresso de novos talentos, na minha visão, é algo fundamental e benéfico para o setor, que está em constante evolução. Há, ainda, um aspecto emocional em contribuir com a realização do sonho de atuar em uma carreira tão respeitada e proeminente.
A perspectiva para o setor de aviação é de expansão para os próximos anos e, conforme apontado, oferecer subsídios para pilotos concluírem suas respectivas horas de voo é de suma importância para o suprimento da demanda, que, certamente, crescerá de maneira substancial ao longo dos próximos anos.
*Rafael Gianesi é CEO da MineToo, empresa que oferece soluções integradas de mobilidade e tecnologia