O Brasil registra 72 acidentes de trânsito por hora. O dado é do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest), órgão da Secretaria Nacional de Trânsito, do Ministério da Infraestrutura, e refere-se a 2021.
A quantidade total de acidentes do ano passado foi de 632.764, sendo que Minas Gerais (176.181 registros e 1.504 óbitos), Santa Catarina (125.675 / 817) e São Paulo (119.637 / 1.458) encabeçam a lista, assim como no caso das estatísticas de mortes decorrentes dessa questão. Em comparação a 2020, houve redução de 33% no total de acidentes e de 93% nas mortes.
O coordenador da Área de Cirurgia Geral e do Trauma e chefe do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP, professor-doutor José Mauro da Silva Rodrigues, destaca que é de fundamental importância conhecer os princípios do atendimento inicial a essas vítimas e quais são os riscos envolvidos nesse processo.
Ele relembra um acidente ocorrido há 34 anos, na Rodovia Castello Branco, na região de Sorocaba (SP), que envolveu sete moradores da cidade. Destes, dois morreram no local.
“O que chamou a atenção para este acidente é que cinco dessas vítimas – inclusive os dois indivíduos que perderam a vida – prestavam socorro para as duas vítimas inicialmente envolvidas, quando foram atingidas por um caminhão”, conta José Mauro.
“Prestar socorro é, acima de tudo, um ato de solidariedade. Isso faz parte das atribuições esperadas de todos para viver em comunidade – lembrando que a omissão de socorro é crime previsto no Código de Trânsito Brasileiro”, destaca.
A simples comunicação do evento aos agentes de trânsito ou socorristas já é suficiente para que essa obrigação seja cumprida e deve ser a única atitude esperada daqueles que não têm treinamento específico para o atendimento desses eventos. “Tanto do ponto de vista legal quanto moral, não se exige mais do que isso, dados os sérios riscos envolvidos nesses atendimentos”, pondera José Mauro.
Ele relembra outro acidente na região de Sorocaba. “Em 20 de janeiro de 2018, uma socorrista que trabalhava na concessionária de uma rodovia da região foi atingida por uma motocicleta ao sinalizar a pista depois de um evento. Ela estava sendo atendida por dois colegas e um terceiro sinalizava novamente a pista, quando outro veículo atingiu os quatro, matando a primeira socorrista”, narra.
Assim, de acordo com ele, cinco medidas básicas podem ajudar a atender as vítimas de acidentes, “desde que respeitados todos os cuidados necessários”. São elas:
- Comunicar a ocorrência – Isto deve ser feito antes de qualquer outra medida, para que não haja atrasos. É importante conhecer os números telefônicos disponíveis, tais como o SAMU (192), os Bombeiros (193) e os números das concessionárias das rodovias da região, que devem ser mantidos na agenda dos telefones celulares.
- Garantir a segurança na cena – Mantendo sempre a segurança pessoal, para evitar o aumento do número de vítimas, o que dificultaria o socorro. Assim, principalmente em rodovias, é necessário parar adiante do local do evento, guardando uma distância segura e permitindo que a aproximação para o local seja feita frontalmente, com ampla visão do tráfego.
- Sinalizar o local – Utilizando o que estiver disponível: triângulos de segurança ou arbustos, por exemplo.
- Não movimentar as vítimas – Existem técnicas específicas para a retirada das vítimas dos veículos, no sentido de evitar o agravamento das lesões existentes. Além disso, para muitos desses casos, são necessários equipamentos específicos para a liberação das que estão presas em ferragens.
- Verificar se existem sangramentos que possam ser contidos – A hemorragia é a principal causa evitável de morte nos pacientes vítimas de trauma. Para as hemorragias dos membros superiores ou inferiores, deve-se providenciar o garroteamento do membro atingido, acima do ferimento. Esse garroteamento pode ser feito com um cinto ou um pedaço de pano com tamanho suficiente. É obrigatório anotar a hora da realização do procedimento. Para as hemorragias em outras localizações, deve-se providenciar a compressão do ferimento com um pedaço de pano.
“Mais do que isso, só para aqueles que tenham treinamento específico em resgate e socorro de emergência, dados os riscos envolvidos mesmo para profissionais bem treinados” alerta José Mauro.
Segundo ele, o treinamento para a contenção das hemorragias é simples e deve ser disponibilizado para toda a população, sendo desejável que existam estojos disponíveis com os materiais necessários em locais estratégicos, como é feito com os desfibriladores para o atendimento da parada cardíaca.