O Brasil tem um imenso caminho para crescer em lácteos, diz José Roberto Colnaghi, empresário da Bonolat

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Para o empresário, se o país aprimorar seu sistema de produção, poderá atingir os níveis dos grandes players internacionais

O estudo Agronegócio do Leite: produção, transformação e oportunidades, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), faz um retrato do segmento no Brasil que segue forte e pujante. Entre 2011 e 2020, o desempenho do setor cresceu 59%, puxado pelos estados do Sul, que possuem os maiores níveis médios do país (3.634 litros por cabeça ao ano), o que ainda assim, não reflete no potencial do mercado nacional. “Os números são bons, mas ainda há potencial de crescimento”, diz José Roberto Colnaghi, presidente do Conselho de Administração da Asperbras Brasil, que controla a Bonolat, indústria do ramo lácteo, localizada em Itapagipe (MG).

Segundo o estudo, os 2.192 mil litros/cabeça registrados em 2020 também estão aquém dos resultados obtidos por importantes atores globais, como Estados Unidos (10,8 mil litros por cabeça), União Europeia (7,2 mil litros por cabeça) e Nova Zelândia (4,5 mil litros por cabeça), em grande parte devido à heterogeneidade da produção brasileira. As regiões Norte e Nordeste e, mesmo estados fora desse eixo, como São Paulo, apresentam produtividades baixas, de 854 litros, 1.461 litros e 1.630 litros por cabeça ao ano, respectivamente.

Para José Roberto Colnaghi, se o Brasil aprimorar seu sistema de produção, poderá atingir os níveis dos grandes players e traduzir esse crescimento em investimentos nas áreas de nutrição, saúde e mecanização da produção pecuária. Desde que iniciou sua atuação, a Bonolat já vem criando essa cultura de assistência e parceria com os produtores de leite para obter o melhor resultado na produção de lácteos. “Estamos em um momento de aprofundar essa parceria e conquistar melhores resultados para todos os elos da cadeia produtiva”, frisa o empresário.

CONSUMO DOMÉSTICO BAIXO

Há um caminho longo a ser empreendido no Brasil, aponta o estudo da Fiesp, mas as condições para isso são propícias. O consumo per capita de produtos lácteos no Brasil, por exemplo, cresceu somente 3% entre 2011 e 2020 (saindo de 168 litros por habitante/ano para 172 litros por habitante/ano), abaixo da taxa de crescimento da população brasileira, que foi de 8% no período. O consumo per capita de lácteos no Brasil também está abaixo do volume absorvido por Estados Unidos (327 litros/ano), Europa (233 litros/ano) e Argentina (265 litros/ano). “Esses dados indicam que há potencial de aumentar o consumo local em 50%, equiparando ao da Argentina, país com quem compartilhamos aspectos socioeconômicos semelhantes”, frisa José Roberto Colnaghi.

MERCADO CONSUMIDOR DA CHINA

A expectativa apresentada pelo estudo da Fiesp é de que a China, principal economia mundial e grande consumidora de alimentos, intensificará a transformação da produção animal em seu país e importará parte relevante de sua necessidade de proteína animal de países com elevado nível de qualidade sanitária, como é o caso do Brasil.

Em 2020, o Brasil teve participação de 0,1% nos US$ 81 bilhões gerados pelo comércio global de produtos lácteos. Segundo dados do Comexstat, vinculado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a balança comercial do setor teve um déficit de US$ 377,7 milhões em 2021. Esses dados indicam que o mercado internacional pode ser uma oportunidade para destravar ainda mais o desenvolvimento da cadeia produtiva de lácteos brasileiro. Ou seja, há espaço para se trabalhar a imagem do produto nacional e ampliar as negociações sanitárias com outras economias para a abertura de novos mercados.