Idosos, jovens, cães e seus tutores voltam com atividades presenciais e reencontram pacientes, familiares e profissionais da saúde
“Minha função de ajudar as pessoas só vai cessar quando terminar a jornada na Terra. Sou voluntário porque quero dar um significado especial para a minha vida”. O depoimento de Ivo de Paula, de 69 anos, revela bem o sentimento das pessoas que decidem dedicar um pouco do seu tempo para transformar a vida dos outros. O aposentado integra há mais de 11 anos a equipe de voluntariado do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), que, após dois anos de afastamento por conta da pandemia, retorna aos corredores e quartos da instituição. “O calor humano fez falta. Estamos de volta com muita alegria e prazer, para continuar tentando ajudar as pessoas”, declara Ivo.
A felicidade de regressar aos hospitais é a mesma dos mais de 300 voluntários, na maioria idosos, que tiveram que ficar isolados e suspender muitas atividades por conta da pandemia. Agora, aos poucos, eles podem voltar a fazer ações que contribuem para minimizar as dores do corpo e da alma de quem enfrenta dias difíceis. “É gratificante estar novamente aqui, fazendo o que faço há 10 anos. Sei que é um dom que Deus me deu, de fazer o bem a qualquer momento e para qualquer pessoa”, conta Marcia Morlan Marqueane, que, com 72 anos, realiza visitas solidárias.
Dedicar parte do tempo a um serviço voluntário pode ser a chave para uma vida mais plena e com propósito. Por isso, homens e mulheres da terceira idade estão cada vez mais envolvidos com causas sociais. Uma pesquisa realizada pela MGN, em parceria com a ONG Parceiros Voluntários, revela que esse trabalho contribui para o aprendizado, autoestima e valores, e permite que pessoas idosas se sintam melhores consigo mesmas e necessárias para a sociedade. Além do tempo que muitos têm para atuar como voluntários, eles carregam experiências valiosas para compartilhar.
Fazer o bem faz bem
Levar conforto aos pacientes, com carinho, atenção e palavras de apoio, sempre foi o compromisso do grupo de voluntários que atua há 15 anos no Hospital Universitário Cajuru, de atendimento 100% SUS. “O voluntariado só existe quando há pessoas que se doam todos os dias na realização de atos, algumas vezes, muito simples, mas extremamente valiosos para pacientes. E participar da retomada dessas ações dentro dos hospitais me dá a certeza de que uma simples história, uma música ou um ombro amigo podem transformar o dia de muitos. É a prova de que não apenas a ciência e a medicina, mas também o amor pode salvar vidas”, afirma a coordenadora da pastoral e do voluntariado dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, Nilza Brenny.
Voluntariado é empatia posta em prática e solidariedade em sua forma mais essencial. Por isso, as visitas humanizam o atendimento de pacientes e aliviam a rotina de profissionais de saúde. De acordo com Lorival Camargo, que acompanha de perto o internamento de seu avô, a chegada dos voluntários quebrou a rotina e amenizou seu dia no hospital. “É fundamental uma palavra de conforto para acompanhantes e pacientes, para que a gente continue firme nessa luta que não é fácil. Só tenho a agradecer pelo que fizeram por mim com essa ação”, declara Lorival.
A cada novo encontro, o bem-estar pessoal cresce dentro de Ivo. A sensação é real e, muitas vezes, impacta diretamente até na sua saúde mental. “Entrar no quarto, levantar o astral e promover esperança. Nosso objetivo é transformar o ambiente hospitalar e ajudar o paciente a melhorar. E, no final disso tudo, o bem que se faz nunca será esquecido”, explica o voluntário. A chance de aprender com a história do outro tem motivado muitos a decidirem fazer trabalhos solidários. “Ser voluntário é tudo o que você faz para o bem do próximo. Você vai doar um pouco de você para aquela pessoa”, conta Marcia.
A solidariedade e o aprendizado têm feito parte da vida de quem se dispõe a fazer trabalhos voluntários. Nos hospitais, o espírito solidário falou mais alto e a pandemia de covid-19 empurrou os mais de 300 voluntários para outras rotinas. Foi preciso se reinventar e se adaptar às visitas limitadas para que, mesmo distantes, eles continuassem o mais próximo possível de quem precisava. Enquanto alguns se organizaram sozinhos para iniciar projetos de doação, outros se mantiveram presentes por meio da tecnologia.
Agora, grupos de voluntários retornam aos poucos e com todos os cuidados para visitas. E por trás dos sorrisos daqueles que doam seu tempo para alegrar o dia a dia de outros, estão pessoas com muitas histórias e vivências. “A presença dos voluntários mostra aos pacientes que eles não estão sozinhos. Mesmo sem estatísticas que comprovam como eles ajudam na melhora das pessoas que estão internadas, sabemos, apenas pelos seus olhares, que conseguimos tocar o coração de cada uma. Felizmente, essas ações estão de volta”, finaliza Nilza.