A Cultura do Desapego

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Uns 20 anos atrás, o meu amigo e presidente da Alcoa, Alain Belda, me mostrava a fábrica no Maranhão.

Inspecionando as instalações, Belda me apresenta o José “nosso melhor torneiro”.

“Agora pergunta ao Zé por que ele só trabalha às segundas e terças, e falta às quartas, quintas e sextas?”

Perguntei.

“Ah Doutor, pelo salário que me pagam aqui na Alcoa, não dá para trabalhar somente às segundas-feiras.”

Outro caso é de um empresário alemão trabalhando na Bahia, que simplesmente decidiu dobrar os salários de seus funcionários. (Henry Ford fez a mesma coisa.)

Três meses depois, seus funcionários convocaram uma reunião, e perguntaram se não podiam trabalhar meio período.

Essa questão nunca foi discutida, e tem a ver com produtividade.

Anglo-saxões, quando alguma máquina dobra a produtividade, em vez de trabalharem menos, ou até 50% menos, preferem trabalhar tanto quanto e ganhar o dobro.

Latinos, mais humanos e ligados na vida, com o aumento da produtividade preferem trocar salário por mais tempo disponível.

E curtir a família, o sol, as praias, a música e os amigos.

Pela pesquisa abaixo, os nordestinos têm o maior índice de desapego desse país, e quem diz que não são eles os mais certos?

Essa é a conclusão do estudo “Dinheiro no Brasil: um estudo comparativo do significado do dinheiro entre as regiões geográficas”, de Alice da Silva Moreira.

Com o clima e a natureza que temos faz sentido não sermos workaholics.

Não temos invernos que nos mantêm em casa, temos praias maravilhosas.

Eu mesmo passei a trabalhar meio período após os 55 anos de idade, em vez de riqueza preferi curtir a vida enquanto tivesse a energia necessária.

Curtir a vida numa cadeira de rodas não fazia sentido para mim.

Pelo jeito o Brasil vai continuar não crescendo nos próximos oito anos, mas isso não será um problema tão sério como os economistas acreditam.

Sempre fomos um povo desapegado a bens materiais.

E isso não é sinal de pobreza, e sim de riqueza.

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