Nove empresas do Brasil estão prontas para aproveitar investimento dos EUA em infra; veja quais

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13/01/22 13h46

Pacote de US$ 1,2 trilhão da Casa Branca para infraestrutura começará a ser executado neste ano

Trade Map

O pacote de US$ 1,2 trilhão de investimentos em infraestrutura sancionado em novembro do ano passado pelo governo dos Estados Unidos e que começará a ser executado em 2022 vai ajudar as empresas do país, mas será benéfico também para companhias brasileiras, em particular no segmento de matérias-primas, segundo especialistas ouvidos pela Agência TradeMap. 

Embora menos ambicioso do que o plano de US$ 2,3 trilhões originalmente proposto pelo presidente americano, Joe Biden, o pacote aprovado em 2021 envolverá investimentos em áreas como rodovias, transporte público, ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias e no setor elétrico para melhorar a competitividade dos Estados Unidos e o escoamento de todas as cadeias de suprimentos, tanto dentro do país quando para a exportação. 

A expectativa é que os investimentos ocorram em um horizonte de cinco a oito anos, e ao longo deste período as empresas mais bem posicionadas para aproveitar a onda de investimentos públicos serão aquelas capazes de fornecer insumos para as obras pretendidas pela Casa Branca – como aço, cobre e minério de ferro -, que fazem parte da cadeia de suprimentos da energia limpa e da motorização elétrica e que possam capitalizar o aumento esperado de renda dos americanos ao longo deste ciclo. 

Confira abaixo em detalhes as empresas brasileiras que se enquadram nesta lista. 

Siderúrgicas

Os benefícios mais óbvios são para as empresas que fornecem matéria-prima para as inúmeras obras que serão realizadas nos Estados Unidos. Entre estas, o destaque vai para as siderúrgicas. 

A empresa brasileira que mais deve colher frutos é a Gerdau (GGBR4), que tem fábricas nos Estados Unidos, acesso direto àquele mercado e despesas sob controle. “Você tem uma empresa muito mais enxuta, com uma estrutura muito mais controlada em termos de custos. Não é à toa que, nos últimos resultados da companhia, a unidade de destaque foi a da América do Norte”, explica Gabriela Joubert, analista chefe de equity research do Banco Inter. 

A Gerdau também fez uma série de investimentos recentes em modernização e conseguiu agregar mais valor a seus produtos, segundo Mary Silva, analista CNPI do BB Investimentos. 

Outra siderúrgica brasileira que pode colher benefícios é a CSN (CSNA3) por causa do braço da companhia na Europa, que mitigaria as dificuldades em exportar aço do Brasil aos Estados Unidos. A empresa também tem planos para investir no mercado americano e na Alemanha. 

“Se por exemplo ela conseguir fazer um M&A, para já ter esse primeiro pé operacional, ela também pode capturar benefícios já desde o início das obras”, explicou Silva. 

Além disso, a maioria das siderúrgicas com presença nos Estados Unidos, como a Gerdau e seus pares americanos, está operando a quase 100% da capacidade, o que pode abrir espaço para o país importar aço de empresas que operam no Brasil. 

Ainda que muitas vezes as siderúrgicas brasileiras não tenham interesse em vender aos Estados Unidos – porque no mercado interno as margens são mais vantajosas -, o aumento da demanda deve sustentar preços mais elevados do aço, o que beneficia a indústria como um todo. 

Energia limpa

Outra frente importante do plano de infraestrutura dos Estados Unidos é a produção de energia limpa e a diminuição das emissões de gases causadores do efeito estufa, com investimentos, por exemplo, em redes de abastecimento de veículos elétricos e na ampliação das fontes renováveis na matriz de energia americana. 

Empresas que produzem componentes para baterias de carros elétricos, como níquel e cobre, devem colher os frutos nesta frente, segundo Silva. Uma destas companhias, segundo a analista, é a Vale (VALE3), um dos maiores players globais no mercado de níquel. 

Felipe Garkalns, head de private banking da MyCap Investimentos, menciona ainda a Aura Minerals (AURA33), que, apesar de ser conhecida pela mineração de ouro, tem cerca de 30% de sua receita vindo da extração de cobre. A WEG (WEGE3), que produz motores elétricos e turbinas de geração de energia eólica, também está na lista. 

Outra empresa que pode se beneficiar é a Aeris (AERI3), produtora de pás para moinhos de geração eólica. “Desde o IPO eles vêm investindo em praças novas para aumentar a produção, que também é para exportação”, explica Garkalns. 

Frigoríficos e agronegócio

A expectativa da Casa Branca e de analistas é que os investimentos previstos no Plano Biden aumente a oferta de trabalho num momento em que a economia dos Estados Unidos opera perto do pleno emprego. O aumento de vagas e a disputa por trabalhadores deve contribuir para um aumento nos salários e, consequentemente, na renda dos americanos, estimulando o consumo. 

“Um plano desses vai gerar muito emprego. Gerando muito emprego a receita da população aumenta, e ela vai passar a consumir mais carne. Isso funciona em qualquer economia mundial”, explica Garkalns. 

Silva ressaltou que as empresas têm se mostrado otimistas com o pacote em conversas com a equipe de analistas do BB-BI. “Já vimos isso acontecer em 2021, que foi um dos anos mais fortes para a demanda de carne bovina, com a recuperação do país e os estímulos do governo”, disse. 

Nesse cenário, a analista espera que duas empresas brasileiras sejam especialmente beneficiadas, por terem operações nos Estados Unidos: JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3). Os benefícios, porém, podem vir para todos os frigoríficos brasileiros via aumento de importações pelos Estados Unidos. 

A consequência de um aumento na demanda por proteína é o crescimento na procura por grãos, utilizados para a alimentação do gado. “Isso pode favorecer empresas globalmente posicionadas na produção agrícola, como a SLC (SLCA3), que é exportadora”, explica Silva. 

Outras empresas, porém, podem colher os frutos do aumento da demanda, ainda que mais indiretamente, considerando que os preços das commodities agrícolas podem ser sustentados em patamares elevados. 

Riscos

Mesmo se tudo andar conforme o previsto, há alguns riscos em torno dos benefícios para as empresas brasileiras. A execução do plano é um deles. “É aquela máxima do ‘sobe no boato e desce no fato’. Se o plano vier abaixo do que se esperava, pode haver uma correção rápida em termos de ações”, disse Joubert. 

Outro risco em potencial reside na possibilidade de o governo dos Estados Unidos restringir importações de insumos para as obras, privilegiando a indústria doméstica. Este cenário, segundo Silva, é pouco provável. “Pode ser que, para determinados produtos, mesmo com medidas protecionistas, eles não tenham capacidade de suprir a demanda sozinhos”, explica. 

A concorrência com empresas dentro dos EUA também pode ser uma ameaça. “Em um mercado muito aquecido, de preços e demanda elevados, é natural que as empresas invistam em capacidade. Aí a oferta aumenta, a competitividade aumenta”, explica Joubert. 

fonte: https://trademap.com.br/agencia/empresa/nove-empresas-do-brasil-estao-prontas-para-aproveitar-investimento-dos-eua-em-infra-veja-quais