Neste ano, 20,1% dos candidatos se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas, contra 22,6% da edição passada
As três principais provas de ingresso ao ensino superior – Enem, Unicamp e Fuvest – apresentaram uma redução no número de inscritos que estudaram na rede pública e também de candidatos não brancos (pretos, pardos e indígenas). O fechamento das escolas por conta da pandemia e a dificuldade de acesso às aulas remotas são algumas das explicações para os especialistas.
Os exames registraram uma queda expressiva no número total de inscritos comparando com as edições realizadas anteriormente. O Enem teve a maior redução em candidatos que saíram de escolas públicas (31%) e de negros (52%). Na Unicamp, caíram 27% as inscrições de alunos da rede pública, e na Fuvest, as inscrições PPI (pretos, pardos e indígenas) caíram 33%.
A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) divulgou o total de inscritos: 110.383 entre candidatos e “treineiros”. O número é bem menor comparado às edições anteriores. A redução de pelo menos 20 mil inscritos entre 2022 e 2021 interrompeu o aumento na quantidade de inscritos, que vinha aumentando progressivamente há dois anos. Este é o menor número de inscritos em 20 anos de prova.
Com a queda do número de inscritos, a diversidade fica cada vez mais difícil de ser alcançada em cursos e faculdades de direito, medicina, engenharia e outras, mantendo o mercado de trabalho também desigual.
A pandemia foi a grande responsável por essa queda de estudantes inscritos em vestibulares, já que os alunos de escolas públicas tiveram ainda mais dificuldades em acompanhar o conteúdo exigido nas provas de forma remota.
Especialistas apontam que estes prejuízos na educação ainda serão vistos ao longo de muitos anos. Para o CNE (Conselho Nacional de Educação), o Brasil precisa começar a construir uma estratégia de curto prazo para que os estudantes retornem às escolas e tenham estímulos para seguir e permanecer na graduação.
Para reverter esse triste quadro, é preciso uma ação unificada em todas as esferas, como a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que obrigou o Ministério da Educação a garantir isenção na matrícula para quem faltou na edição de 2021 por medo da covid-19. Essa decisão fez com que o número de candidatos aumentasse 9%.
Recebem a isenção automática os candidatos que estão cursando o 3º ano do Ensino Médio em escola pública.
Relatos de educadores indicam que a necessidade de trabalhar para ajudar em casa é citada por alunos como motivo para a evasão escolar. Essa desvinculação do processo de aprendizagem é um corte na inclusão que vinha ocorrendo ao acesso no Ensino Superior de pessoas negras, pardas, indígenas e de baixa renda, tornando o ensino superior mais elitista e excludente.